Saúde
UBS da Z-3 é alvo de reclamações de descaso no atendimento
Consultas marcadas apenas por agendamento, falta de remédios e espera de semanas: situação no posto de saúde obriga usuários a gastarem aquilo que não têm com médicos particulares
Foto: Jô Folha - DP - Entre as inúmeras reclamações dos usuários está o agendamento para consultas, que nesta segunda estavam sendo marcadas para o dia 11 de março
Nos últimos meses, os moradores da Colônia de Pescadores Z-3 têm sofrido com o descaso na prestação do serviço público de saúde na região. Segundo os relatos de usuários, o atendimento médico feito na Unidade Básica de Saúde (UBS) da localidade ocorre apenas sob agendamento prévio, e o tempo de espera pode durar semanas. A falta de medicamentos e itens de emergência também chama a atenção. Além disso, alguns exames vêm sendo efetuados pelas próprias enfermeiras da unidade, e os atendimentos chegam a tardar 45 minutos por pessoa. Em certos casos, o contato direto com o médico nem acontece.
Na manhã desta segunda-feira (26), a reportagem do DP foi até a Z-3 para verificar a situação. Chegando na UBS, os usuários não titubearam para falar sobre a situação no posto de saúde. Desseni Souza, 64 anos, estava acompanhando o cunhado, Sidnei Souza, de 79 anos, que sofre com dores na próstata e sangue na urina por conta de uma úlcera. A consulta com o médico na UBS ficou agendada apenas para o dia 11 de março, mas com as dores sentidas pelo homem, tamanha espera é inviável. Em razão da morosidade, o paciente já pagou os exames de tomografia via particular. Com tudo em mãos, e sem condições de arcar com novas despesas, resiste enquanto espera uma consulta com o médico. "Ele já foi para a UPA, só fizeram um soro nele e mandaram embora. E agora ele está com isso aqui (exames), com o agendamento para o dia 11. Ele não tem como esperar, está com dor. E não tem como pagar mais particular", disse Desseni.
Infelizmente, o caso de Sidnei não é isolado. Uma moradora da Z-3, que preferiu não se identificar, declarou que seu irmão foi até a UBS na segunda-feira passada, pois sentia fortes dores no estômago. Na oportunidade, o atendimento não ocorreu, ficando agendado também para o dia 11 do próximo mês. No dia seguinte, a namorada do rapaz pagou uma consulta particular. Quando estavam no consultório, ele sofreu uma convulsão e foi internado às pressas, o que evidencia a gravidade do seu caso. A moradora ainda conta que seu marido, que sente dores na coluna, também sofreu com a aparente desconsideração no posto de saúde. "Ele foi às 6h30min e voltou às 12h, e não viu o doutor. A enfermeira que deu o exame e eu paguei pelo SUS. Ele foi levar o resultado e o médico não estava. A enfermeira olhou, não explicou nada direito e disse que talvez na segunda-feira o doutor mandasse uma receita com remédio pela agente de saúde. Meu marido é cismático, queria conversar com o doutor", narrou a mulher. "A doença não tem agendamento", concluiu.
Outros usuários alegam que os problemas se estendem também na dificuldade de obtenção de medicações na unidade, já que sua retirada depende de diversas visitas à UBS. Por serem remédios de uso controlado, era necessário mais rapidez. "Tu tira a receita na segunda e pega na sexta, outro erro", disse Lúcia Duarte, de 65 anos, que saía de uma consulta com o médico. Como conseguiu ser atendida pelo profissional, acabou servindo de porta-voz para os outros usuários que pediam por explicações para entender os motivos da situação atual. "Medicação aqui dentro não tem para ninguém em uma emergência. O médico me disse. Meu problema é a coluna e ele disse que não tinha medicamento para me dar", expôs a mulher. "É um bom médico. Ele está agendando porque não dá vencimento de tanta gente que tem. Tem que ter outro médico aqui dentro."
No momento em que a equipe de reportagem chegou ao local, foi informada pela secretária que havia possibilidade de uma entrevista com o médico ou alguma enfermeira. Porém, com o lapso de alguns minutos, veio a informação de que os profissionais não iriam falar. Na opinião da usuária Lúcia, fora a escassez de profissionais, o descaso na UBS se associa principalmente com o trabalho que vem sendo realizado pelas enfermeiras. A mulher conta que estava na consulta com o doutor e no mesmo instante uma das enfermeiras o avisou da presença da reportagem na unidade. "A enfermeira chamou o médico lá para dentro e não quis deixar o médico falar com vocês. Elas sabem que tem erro aí dentro", alegou. A atitude de omissão irritou as pessoas que aguardavam o atendimento e inclusive Lúcia que, tendo noção de como funciona o dia a dia na UBS, começou a desabafar sobre outras falhas na prestação do serviço de saúde: "Começam a atender às 8h30min da manhã, e às 14h30min vocês podem vir aqui que não tem mais ninguém atendendo. As enfermeiras não estão atendendo direito. Levam 45 minutos para chamar alguém, ou até cair um morto aqui na porta."
O que diz a Prefeitura
De acordo com a Diretoria de Atenção Primária (DAP) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), os profissionais da Unidade Básica de Saúde (UBS) Z-3 afirmam atender conforme o preconizado no protocolo de acolhimento adotado pelas UBSs do Município. O usuário é chamado, ouvido e, dependendo de sua classificação de risco, ele é agendado ou atendido no mesmo dia pelo médico. Quando a situação não é urgente nesta classificação, o agendamento acontece e o usuário é informado sobre a data para retorno em consulta médica. Além disso, é acordado que caso a situação se agrave, o usuário deve retornar para nova avaliação.
A assessora na DAP e gestora da Rede Bem Cuidar em Pelotas, Josiane Palma, explica que neste momento agendamentos para consulta médica na Unidade Básica de Saúde Z-3 estão sendo realizados para a semana de 11 de março e que diariamente o médico atende três agendados por turno, além de demandas urgentes. "Para dar vazão aos acolhimentos e evitar a espera demasiada, estamos com uma enfermeira a mais nesta UBS", complementa. Josiane explica que cada UBS tem uma demanda específica e dá vazão aos atendimentos em diferentes datas. Contudo, o acolhimento resolutivo é um dispositivo que visa, principalmente, diminuir o tempo de espera tendo outros profissionais capazes e treinados para solucionar o problema trazido.
Conforme os registros de sistema, mais de 20 pessoas foram acolhidas pelas enfermeiras até as 11h de segunda na UBS da Colônia Z-3. "Entendemos que seja desconfortável aguardar, porém igualmente não é agradável ser atendido sem qualidade na escuta, o que é estimulado de nossa parte. Todos merecem bom atendimento", avalia Josiane.
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